O mundo de Gafa

Bien venidos ao MEU MUNDO! Se eu quiser, eu jogo fora, penduro no varal ou guardo debaixo da cama, porque é meu! Esse Blog não tem fins (nem princípios) Lucrativos (quer dizer, se quiserem me dar grana, estamos aí!), porém é de extrema pretensão, mesmo que infundada! O importante é exercitar o cérebro! Mesmo que seja pro mau... Mesmo que seja de forma errada... Mesmo que tenha de explodí-lo! Porque se escrevemos, é para que alguém em algum lugar, quando ler, sofra alguma reação!

segunda-feira, setembro 25, 2006

Cavalheiros.

"Sempre existe uma porção de amigos dos quais odiamos.
E um ou outro inimigo ao qual temos simpatia."
Millôr Fernandes



Nem sei por onde começar...


E assim já tinha um começo pré determinado. Sabe, é que nem quando alguém pretende contar algo e a primeira coisa que diz é "nem te conto!", acho que já entendenram a situação, né?

Então, não sabendo por onde começar, começarei sem um começo! De repente, lá pelo meio, aparece um inicio, meio desconexo, pertinho do fim, que vai estar lá pelo meio, ou antes do início mesmo... Olha, me desviei do assunto que ainda nem toquei!

Tá, assim... era um grupo de amigos, uns mais amigos, outros menos amigos, mas todos amigos até onde me consta. Eis que esse grupo de amigos vem a se encontrar com outro grupo de outros amigos em comum. Considerando a cidades serem pequenas cá pra estes lados e sempre um conhece outro que conhece um que conhece... Enfim, mais ou menos isso, sabem? Então! Não pretendo entrar em pormenores dos grupos de amigos, dizer quem pegava quem, quem era gordo, quem era de fora, quem veio antes e quem depois. Não, quero apenas me concentrar em dois rapazes, cada um de cada grupo de amigos, conhecidos e afins. Vou tentar reproduzir como se deu tal encontro de ambos, mas receio ser falho em minha memória, mesmo porque, me faltariam palavras que fossem semelhantes às deles. Não que dentro desse grupo de 15 ou 20 amigos eles fôssem melhores, ou mais altos ou qual qualidade (ou defeito, vá lá!) se diga. Mas ressalto atenção a eles por sua peculiaridade, pois não é todo dia que se depera com pessoas assim.
Uma pessoa do grupo apresentava a outro que por sua vez apresentava outra a outro que já se conhecia e assim se ia até que enfim foram postos, frente à frente, ambos jovens. Não pretendo citar nomes e datas para não prejudicar famílias e amigos envolvidos no caso. Lembro (e talvez aqui seja o começo que falei.) de um deles responder, ao serem dictos seus nomes:

-- Não necessita de apresentações. Já conheço tal senhor de vista, bem como de rápidos diálogos, daqueles, por educação.

-- Já que não necessitas de apresentações, caríssimo senhor, creio que considere demasiado um aperto de mãos, visto que também o conheço e receio que sua fama preceda sua pessoa... -- respondeu o outro, com um meio sorriso de quem inicia uma peleia, certo da vitória.

(os amigos se divertiam e conversavam sem dar muita atenção a ambos, visto que nunca foram muito sérios mesmo.)

-- Pois fico honrado em saber de minha fama afora, visto que não tenho o que temer. O senhor tem algo de sua fama que prefira que não venha ao conhecimento alheio? -- Sorriu, em resposta, o outro, com ares de quem aceita um desafio.

-- Pois vejo que possui desenvoltura no manejo das palavras! Indago-me se possui a mesma articulação para tratar de suas inimizades.

-- Pois saiba o senhor que a mim apraz que se chegue a um entendimento mutuo este caso. Tens algo em mente, se é que mente possui?

-- Mentiria se dissesse que não, porém receio que o amigo ache um duelo um tanto quanto antiquado aos seus modos... Além do que, temo que a coragem lhe seja escaça...

-- De forma alguma! Saiba que a idéia me comove até! Então, o que será? Pistolas ao amanhecer ou Sabres ao pôr-do-sol?

-- Creio que este embate seja de extrema urgência, além do que, armas de fogo são destituídas de glamour.

-- Decidido está então. Vamos?

-- Pode apostar seu pescoço nisso! Com o perdão do termo...


E lá se foram os dois, animadamente conversando, em direção à uma praça qualquer. O grupo de amigos que até então ria às bandeiras despregadas do "theatrinho" de ambos, começava a se preocupar. Já sérios, foram ao encalço dos rapazes e se espantaram ao ver ambos já de sabres em punho. Talvez fôsse parte da brincadeira, mas já estava parecendo mais real do que os moços costumavam ser. Alguém do grupo grita algo, mas nenhum dos dois dá muita atenção. Estão compenetrados, sabres cruzados, a se olharem, sério, fundo nos olhos um do outro (e de quem mais seria, oras?!). Um deles estende a mão.

-- Um último cumprimento, antes do amigo ter de provar os sabores do aço em sua carne.

-- Perdão, mas não toco em "maus teores" a não ser por descuido! Mas abro uma excessão, devido às circunstâncias ímpares. -- retruca o outro apertando com firmeza a mão. -- Então, comecemos? Em guarda!

-- É esquisito falar assim! Tem tom de deboche.

-- Pois se consideras um deboche, acho que é o amigo quem irá sentir os malefícios da lâmina!

Ambos se afastam categoricamente e começam o duelo. Atacam e defendem como se tivessem feito isso a vida toda. Onde eles teriam aprendido tais movimentos em dias como hoje? E como os amigos não sabiam donde eles tinham tirado essa? Sabe, sempre se acha que conhece uma pessoa como a palma de sua mão, até olha bem de perto pra sua mão e ver que ela estava fechada...
Moviam-se com a maestria de quem não tem mais com o que se preocupar. Pareciam ausentes da realidade. Talvez porque a realidade deles agora era outra. Na verdade, a muito já eram de outra realidade, apenas nesse momento é que a encontraram. E tudo pareceu plástico à sua volta. Nada era real, apenas a fantasia deles. Não ouviam os gritos, as buzinas, os choros,a música, os carros... enfim, nada a sua volta.
Um deles avançou contra o outro como se fôsse ele o inventor do sentimento da fúria. mas não que odiasse seu oponente, apenas estava exercendo o seu melhor a um adversário à altura. O outro recuava, em defesa, revidando alguns golpes, faiscando seus sabres. As lâminas cortavam os ares, produziam sons de batalha. Moviam-se rápido demais para que as pessoas de fora pudessem acompanhar. Tinha um tom de exclusividade nesse combate. Pra bem da verdade, não sei como descrever... ambos não tinham medo se poderiam ferir-se ou coisa que o valha. Mas não poderia se chamar de coragem também. Aliás, não se pode mesmo descrever o que deveriam sentir ambos, exceto a impressão de um respeito silencioso, como se um estivesse admirando o outro, como se fôssem amigos felizes pela superação um do outro.

-- Parece que o amigo está a divertir-se!

-- Confesso que nunca havia encontrado oponente à altura...

-- Pois considero que deveríamos ter feito isto muito tempo antes.

-- É uma lástima o modo como isto vem a terminar... poderíamos ter somado muito um a cultura do outro.

-- Concordo. Em outras circunstâncias teríamos nos entendido bem, suponho...

Continuam sua luta. Muito próximos um do outro, conversavam e atacavam e defendiam e respondiam e parecia que nunca mais findaria aquele momento. Mas, eis que, não por falta de habilidade um deles é atingido. Como a chave certa entra numa fechadura, o sabre lhe entrou pelo peito em direção ao coração. Saiu às costas, numa cor rubra, meio escura e viscosa. Ele tossiu. Gotas de sangue salpicaram o rosto do outro. Ele sorriu e disse, quase já sem voz.

-- Foi um prazer...

Fechou os olhos e soltou um ultimo suspiro, feliz. O outro fechou os olhos. Respirou fundo e tirou o sabre das entranhas do oponente. Baixou a cabeça e respondeu.

-- O prazer foi todo meu...

Afastou-se, com o sabre adversário atravessado em sua barriga, mas este não teve tempo de ser retirado. Virou a volta. Deu dois passos. Ambos corpos caíram. O grupo de amigos, que até então, estivera paralizado, como se o tempo a sua volta tivesse congelado, correram em direção à eles, mas já não havia nada a ser feito.
Ambos morreram.
Como legítimos cavalheiros que eram.
E, pensando bem, não teria como ter sido diferente...



Humor: Tristonho.


Ouvindo Yardbirds - Mister, You are Better Man Than I.