O mundo de Gafa

Bien venidos ao MEU MUNDO! Se eu quiser, eu jogo fora, penduro no varal ou guardo debaixo da cama, porque é meu! Esse Blog não tem fins (nem princípios) Lucrativos (quer dizer, se quiserem me dar grana, estamos aí!), porém é de extrema pretensão, mesmo que infundada! O importante é exercitar o cérebro! Mesmo que seja pro mau... Mesmo que seja de forma errada... Mesmo que tenha de explodí-lo! Porque se escrevemos, é para que alguém em algum lugar, quando ler, sofra alguma reação!

terça-feira, dezembro 19, 2006

A Morte, como ela é.

"A Vida é apenas o intermédio entre o nada e o coisa alguma."
Não sei de quem.



Arrombaram a porta do galpão. Ele já sabia pelo que esperar. O cheiro de coisa putrida somemte grifou o que já tinha certeza. Dois dos policiais locais sairam correndo pra fora para vomitar. Mas ele não podia fazer isso, era um Detetive, e detetives não fazem esse tipo de coisa. Foi descendo as escadas do velho galpão. Era uma espécie de celeiro, numa fazenda, distante do movimento da cidade (como é característico de uma fazenda, oras! Não precisa deduzir...).
As moscas infestavam o local. Seria certo chamar de "enxame" de moscas? Nunca foi bom com Coletivos mesmo. Não era isso que se cobrava em um concurso público. Legislação, sim, coletivos não. Droga, pensava ele, quando na escola, lia Agatha Christie, depois de uns 15 livros, achou que a profissão ideal para ele seria essa. Que tolice. Claro que a realidade não tem todo aquele glamour! A época não é a mesma, o clima não é o mesmo, o lugar não é o mesmo... Enfim, era ficção, devia ter percebido isso antes. Porém a ilusão o acompanhou até sair da escola e prestar esse tal concurso.
Terminou o lance de escadas. Mesmo não tendo nojo como seus "colegas" de serviço, tapou o nariz com um lenço que levava ao bolso. Não que tivesse nausea, mas o cheiro era muito forte. Penetrava pelas narinas, se esgueirava pelo estômago... Ele detestava encontrar cadáveres, mas alguém tinha de fazê-lo. Sabe, normalmente não havia nada de mais. O cara tava morto e pronto. Seja com tiro, pedrada, à pauladas, queimado... enfim, no fim e por fim, tudo a mesma coisa. Depois de um certo tempo, tu começa a ver como apenas mais um. Sempre mais um. Sempre alguém morre. Sempre alguém acha o cadáver. É o processo natural da vida. Morrer. Estranho mesmo seria ele achar um cadáver vivo.
Colocou suas luvas de borracha. Achava uma frescura, mas era do oficio. Sabe, não pode ter digitais e essa coisa toda... Fora a higiene. Acendeu uma lanterna. Odiava aquilo de "não toque em nada no local". Dava uma pomposidade desnecessária ao facto. Deveria se ter todo este cuidado prévio! Depois de morto, não precisa, o cara já morreu oras!
Enfim, começou a examinar o local... nada de novo. Velho, sujo, fedendo... E sem pistas. Sim, sem evidência alguma. Nunca era um assassino serial querendo dar mostras de seu "criação". Nunca era um plano elaborado pra incriminar alguém. Nunca era nada que usasse mais do que os instintos de assassino. Normalmente o assassino era um peão, chinelão, miserável, que queria apenas roubar algo mas não teve cabeça suficiente pra fazê-lo. Ou então, acabar com a raça do cara que engravidou a irmã solteira dele... coisas desse tipo. Nada de novo.
Mas e o cadáver? Onde meterem ele? Não deve estar no congelador, fedendo desse jeito. Achou o interruptor de luz e o acendeu. Nossa, que bagunça! É grande isso daqui... Talvez o dono fôsse produtor ilegal de bebidas... Garrafas espalhadas por todo lado. Achou o corpo. Não precisava dum legista (raça maldicta) pra dizer que esse daí tava morto pra mais de semana. estado de decomposição avançado. Droga, um dos braços já estava todo roído pelos vermes. O sangue já coagulado era uma poça seca abaixo dele. Tinha um rombo nas cortas. Ou o cara era contorcionista ou então não foi suicídio, pensou ele se rindo. era o que restava, fazer piada apenas. Olhou em volta a procura da arma do crime. Provável que não achasse alí. Talvez no açude do quintal.
Ficou triste por pensar que um dia acabaria assim, sendo comido por seres mais burros e menores que ele.
Diferente da TV, maior parte dos crimes são assim, sem graça alguma. Deveria ter tentado ser escritor ou jornalista, talvez sua realidade fôsse outra... Tirou as luvas e acendeu um cigarro. Fumou enquanto refletia sobre essa coisa de vida e morte e sobre o quão normal era isso tudo. E que um dia todos morrem e não tem a minima graça nisso. E que nenhum assassino tenta dar um toque de diversão à cena.
Joga o resto de seu cigarro no chão e o apaga pisando em cima. Olhando pro chão, vê, perto de onde jogou a guimba, uma outra igual a sua. Quase deixa escapar essa! Por pouco que não se esquece de que uma semana atrás alí estivera, matara um velho pelas costas sem nenhum motivo, fumara um cigarro e jogara a arma, sem digitais, no açude.
Bem, pensou consigo mesmo, acho que é caso encerrado...



Humor: Negro.


Ouvindo: Violent Femmes - To the Kill.